MOVIMENTOS
SOCIAIS E MOVIMENTOS POLÍTICOS
Marcus Gomes*
O nosso objetivo, no presente artigo, é diferenciar
movimentos sociais e movimentos políticos. O que são movimentos sociais? O que
são movimentos políticos? Por qual motivo são diferentes? Ou não seriam
diferentes? Inclusive alguns poderiam até perguntar: existem movimentos
políticos? São estas questões que vamos buscar responder. Para tanto, vamos
iniciar com uma discussão sobre movimentos sociais e depois sobre movimentos
políticos para, posteriormente, analisar a relação entre movimentos sociais e
movimentos políticos.
Os
Movimentos sociais
Os movimentos sociais são fenômenos sociais complexos.
Existe uma miríade de definições de movimentos sociais, mas poucos conceitos e,
menos ainda, com embasamento teórico-metodológico. Algumas definições de
movimentos sociais são tão amplas e imprecisas que não valeria a pena
recordá-las. Mas, tendo em vista nossos objetivos, não custa apontar algumas
delas e mostrar as suas fragilidades. Tomemos, por exemplo, a definição de
Charles Tilly: os movimentos sociais são uma interação contenciosa entre
desafiantes e detentores do poder (cf. ALONSO, 2009; VIANA, 2017). Essa
definição, já foi observado (VIANA, 2017) é extremamente ampla e imprecisa. Desafiantes
do poder é quem, mais exatamente? Todos que estão na oposição em relação um
determinado governo? Então, nesse amplo espectro, teríamos o movimento negro, o
movimento feminino, o movimento ecológico, o movimento pacifista, entre dezenas
de outros e, além deles, o movimento socialista, o movimento comunista, os
grupos neonazistas, os separatistas em alguns países, etc. Porém, não ficaria
apenas aí. Os partidos de oposição entrariam no rol de “desafiantes do poder”.
Não é preciso esclarecer que isso é muito confuso e impreciso, além de
demasiadamente amplo.
Uma outra definição é a dos movimentos sociais como “ações
sociopolíticas construídas por atores coletivos de diferentes classes sociais”,
“numa conjuntura específica de relações de força na sociedade civil” (GOS;
PRUDÊNCIO, 2004), que é a definição de Gohn (2002). Aqui se observa os mesmos
problemas da definição anterior. A amplitude e imprecisão acaba servindo para
abarcar quase tudo: movimento de classes sociais, movimento de grupos sociais,
movimentos políticos, partidos políticos, organizações, etc. E, nesse caso,
ainda há uma amplitude ainda maior, já que não há a restrição ao caso dos
“desafiantes” e “detentores do poder”.
A lista de definições seria extensa e alguns autores já
elencaram uma diversidade delas (VIANA, 2016a; GOS; PRUDÊNCIO, 2004). Não seria
proveitoso continuar. Por isso precisamos apontar o que nós entendemos por
movimentos sociais. A melhor definição de movimentos sociais é a de Karl
Jensen. Para este autor, os movimentos sociais podem ser definidos como
movimentos de grupos sociais. Ele aprofunda a definição, colocando uma
discussão sobre o significado de “movimento”, “grupos sociais”, etc. Porém, tal
definição ainda é apenas um esboço, que foi desenvolvido e aprofundado, nos
quais novos elementos são acrescentados: um movimento social pressupõe
mobilização, senso de pertencimento e objetivos (VIANA, 2016a) e isso remete a
uma situação social específica geradora de insatisfação social. Aqui temos um
conceito de movimento social que é útil para a análise da realidade social e
que não cai na amplitude que esvazia os movimentos sociais de especificidade.
Nesse contexto, a diferenciação entre grupo social e movimento social é
fundamental, bem como entre movimentos sociais e suas ramificações[1].
A confusão terminológica desaparece com o esclarecimento conceitual que emerge
nessa concepção.
O elemento básico e fundamental aqui, para nossa discussão,
é entender que os movimentos sociais remetem a grupos sociais. Isso exclui, por
conseguinte, classes sociais. O movimento operário, o movimento camponês, entre
outros, não são movimentos sociais. São movimentos de classes (e essa expressão
só tem sentido para demarcar sua diferenciação com os movimentos sociais). Qual
a diferença? Não é nosso objetivo aqui tratar disso pormenorizadamente, mesmo
porque já existe produção sobre essa questão (VIANA, 2016a; VIANA, 2016b).
Porém, vamos destacar apenas os aspectos fundamentais dessa diferenciação. Os
movimentos sociais são de grupos sociais e isso o distingue das classes
sociais. Não é possível realizar toda uma discussão sobre grupos sociais, mas
tão-somente esclarecer que estes, tal como definido por Jensen (2014) e Viana
(VIANA, 2016a; VIANA, 2016b) se distinguem das classes sociais. A unidade dos
grupos sociais é fundamentada na corporeidade, situação social ou causa,
enquanto que a as classes sociais é originada da divisão social do trabalho,
determinada pelo modo de produção dominante. Os grupos sociais podem ou não se
relacionar com outros grupos sociais, pode ou não se defrontar com o Estado,
etc., mas as classes sociais são relacionais, só existem em relação uma com as
outras, através de relações de exploração e dominação, entre outras que são
derivadas.
Assim, o movimento feminino é gerado pelo grupo social das
mulheres, cujo elemento em comum é a corporeidade, pois o resto é produto
social e histórico (subordinação, senso de pertencimento, etc.). O movimento
operário é distinto, pois sua base social é o proletariado e este não tem como
base a corporeidade e sim a mesma posição na divisão social do trabalho, sendo
a classes dos trabalhadores assalariados que produzem mais-valor (o que os
distinguem dos trabalhadores assalariados improdutivos, ou seja, daqueles que
não produzem mais-valor). As classes sociais existem numa relação marcada pela
exploração e dominação, o que significa que existe uma constante luta entre as
classes fundamentais (burguesia e proletariado). As demais classes também estão
envolvidas nessa luta. Este é o caso daquelas que fazem parte do seleto grupo
das classes superiores, o que engloba as classes auxiliares da burguesia
(burocracia e intelectualidade), como interesses próprios e recebendo um
tratamento diferenciado por parte da classe dominante, com salários mais elevados,
poder, etc. e outras classes (resquícios da sociedade anterior, que existem por
um tempo determinado, tal como no caso da passagem do feudalismo para o
capitalismo, ou então a classe latifundiária, que também vai diminuindo
paulatinamente com o desenvolvimento histórico do capitalismo). Por outro lado,
existem as classes inferiores, que são diversas e se encontram próximas do
proletariado por sua condição de vida e posição inferior na sociedade e
pirâmide social, sendo potenciais aliadas da classe operária. Esse é o caso das
classes camponesa, subalterna, lumpemproletária, etc.
Porém, esta é a diferença básica, mas existem diversas
outras derivadas. Os movimentos sociais podem se enclausurar em suas demandas
específicas, se dividir de acordo com as classes sociais e outros elementos em
comum, etc., enquanto isso não ocorre nos movimentos de classes. Os movimentos
sociais podem existir ou não, ou seja, um grupo social pode realizar
mobilização ou não, enquanto que as classes sociais são constrangidas a agir,
mesmo que seja de forma cotidiana e sem maior radicalidade, pois isso é um
elemento de sua própria existência.
Os
Movimentos políticos
Esclarecido o que são movimentos sociais, falta esclarecer o
que são movimentos políticos. Podemos dizer que os movimentos políticos são
extensões dos movimentos de classe. Eles não são, como se poderia pensar
analogamente, ramificações dos movimentos de classes e nem das classes sociais.
Um movimento social possui diversas organizações, concepções, tendências, que se
unificam em torno do grupo social e das suas causas específicas. Uma classe
social pode gerar também, diversas organizações, concepções, tendências. Por
exemplo, o movimento operário pode gerar comitês de greve, conselhos de
fábrica, associações, etc., bem como pode gerar concepções semiproletárias ou
proletárias, entre outros exemplos. Porém, nesse caso são organizações,
concepções, etc., que são formadas por proletários. No caso das classes
sociais, indivíduos pertencentes a outras classes sociais podem gerar
organizações, concepções, etc., voltadas para expressar os interesses de outras
classes sociais. É um caso muito comum no que se refere ao proletariado.
Indivíduos de outras classes inferiores, mas especialmente setores da
intelectualidade e da juventude (de outras classes sociais) geram organizações,
concepções que visam expressar os interesses do proletariado. No caso da
burguesia isso é mais difícil, mas ocorre com setores da burocracia e da
intelectualidade que geram organizações e concepções para defender os
interesses da burguesia.
Os movimentos políticos são extensões dos movimentos de
classes sociais. Isso pode ser melhor entendido se observamos que sem
movimentos de classes, dificilmente surgem movimentos políticos ou então estes
são pequenos grupos marginais com pouca presença na sociedade civil. Os
movimentos políticos são organizações que expressam os interesses de uma classe
social, de forma implícita ou explícita. Isso significa que devemos distinguir
entre o fenômeno real e sua autoimagem. Um movimento político pode dizer que
expressa os interesses do proletariado, mas isso é apenas o discurso e não a
realidade, pois ele pode expressar outra classe social. Etzioni (1976), ao
distinguir entre objetivo real (verdadeiro) e objetivo declarado (falso, em
grande parte das vezes) das organizações nos ajuda a compreender esse fenômeno.
O stalinismo afirma defender os interesses do proletariado e, na antiga União
Soviética, explorara e reprimia o proletariado em nome do proletariado. Outro
movimento político pode dizer que expressa os interesses de uma determinada
classe e o faz efetivamente. Ainda é possível um movimento político que diz não
expressar classe nenhuma (e sim “o povo”, “a nação”, etc.) e é expressão de uma
delas apesar desse discurso.
Isso quer dizer que todo movimento político se vincula uma
classe social, expressa seus interesses, mas não é necessariamente a classe que
ele diz defender que ele efetivamente defende. As exigências dos movimentos
políticos são variadas, mas podem ser sintetizadas em dois grandes objetivos: a
conservação ou a transformação social, sendo que a favor do primeiro estão os
movimentos políticos representantes da burguesia ou da burocracia, enquanto que
a favor do segundo estão os movimentos políticos representantes do
proletariado.
Esses movimentos políticos são partes dos blocos sociais, que
são o setor organizado, consciente e ativo que expressam as classes sociais
(VIANA, 2015a). Existem três blocos sociais: o dominante (conservador); o
progressista (reformista) e o revolucionário (VIANA, 2015a). O bloco
conservador se divide em diversos movimentos políticos, como o nacionalista, o
liberal, o fascista, o republicano, o nazista (ou neonazista), e estes possuem
subdivisões. Podemos denominá-los movimentos políticos conservadores. O bloco
progressista também se divide em diversos movimentos políticos, tais como o
social-democrata, o bolchevista, o trabalhista, entre outros, com suas
subdivisões internas. O bloco revolucionário é composto por movimentos
políticos diversos, tal como o anarquista e o marxista. Obviamente que os
blocos sociais não são compostos apenas por movimentos políticos, mas também
por instituições (especialmente o bloco conservador e o progressista), ideologias
sem maior vínculo com movimentos políticos, movimentos sociais, etc.
Nesse momento é necessário distinguir entre movimentos
políticos gerais, em sentido amplo, e específicos, em sentido restrito. Em
sentido amplo trata-se de diversas organizações que, supostamente, possuem
concepções políticas similares. Assim, podemos falar de movimento fascista,
movimento anarquista, movimento marxista, movimento leninista. Em sentido
restrito, podemos citar o Partido Fascista Italiano, ou qualquer outro partido
fascista, ou então o grupo inglês solidarity, que é parte do movimento
marxista. Assim, os diversos grupos de comunistas de conselhos que existiram na
Holanda e na Alemanha, bem como o MOVAUT – Movimento Autogestionário, no Brasil
atual, são movimentos políticos. E todos estes são partes do movimento político
marxista, ou seja, de um movimento político em sentido amplo. Assim, o
fascismo, a partir do momento que tem várias organizações (e outros elementos
que elas devem possuir e especificaremos adiante) é um movimento político em
sentido amplo e organizações específicas também são movimento políticos, mas em
sentido restrito. O mesmo vale para o anarquismo, o marxismo, o nazismo, o
bolchevismo, a social-democracia, etc.
Desta forma, quando falamos movimento político em sentido
amplo, apontamos para diversos movimentos políticos em sentido restrito,
diversas organizações políticas (grupos, partidos, etc.) e quando tratamos
nesse último sentido, estamos nos referindo a organizações específicas. Seria
possível perguntar por qual motivo não diferenciamos, como faz Viana (2016a)
entre movimentos políticos e ramificações. Por se tratar de um fenômeno
diferente. Os movimentos sociais são expressões de grupos sociais e seus
objetivos são causas específicas, enquanto que os movimentos políticos são
expressões de classes sociais e seus objetivos são causas gerais. Porém, os
movimentos políticos podem expressar classes sociais sem ter consciência disso
ou atribuir a outros setores da sociedade ou, ainda, dizer que expressa uma
determinada classe e expressar outra. Ou seja, o vínculo entre movimentos
sociais e grupos sociais é autodeclarado, consciente e direto, euquanto que o
vínculo entre movimentos políticos e classes sociais pode ser ou não autodeclarado
e consciente e, efetivamente, não é direto, ele não é emanação direta da
classe, podendo, inclusive, nem sequer ter contato com ela. Os componentes dos
movimentos sociais são indivíduos dos grupos sociais – embora possam ter, como
coloca Viana (2016a) alguns indivíduos autóctones – e os dos movimentos
políticos podem ser, mas em alguns casos geralmente não são, pois as classes
inferiores possuem dificuldade de organização para fora dos locais de trabalho,
por exemplo.
Isso tudo quer dizer que o vínculo entre grupos sociais e
movimentos sociais é distinto do que existe entre classes sociais e movimentos
políticos. E por esse motivo, não é possível considerar os movimentos políticos
específicos, ou seja, em sentido restrito, como ramificações dos movimentos
políticos gerais, ou seja, em sentido amplo. Além disso, os movimentos sociais
não existem apenas através de organizações, mas também de indivíduos – ação
coletiva compartilhada, tal como colocou Viana (2016a). Poderíamos elencar mais
elementos, mas o fundamental é que a ideia de ramificação pressupõe uma unidade
discursiva (marcada por divisões e divergências, mas que se volta para os
grupos sociais e causa do movimento) e de vínculo que não existe nos movimentos
políticos.
Uma vez que realizamos algumas distinções necessárias, agora
devemos desenvolver mais a ideia do que é um movimento político. Um movimento
político geral é um conjunto de movimentos políticos específicos. Ambos são
expressões das classes sociais. Desta forma, podemos dizer que os movimentos
políticos são organizações que expressam os interesses gerais das classes
sociais visando conservar ou mudar a sociedade[2].
Porém, embora isso seja fundamental, não abarca a totalidade do fenômeno. É
preciso avançar no sentido de explicitar as características dos movimentos
políticos específicos.
As características de um movimento político são: a) a
organização; b) um programa; c) uma concepção. A organização que constitui um
movimento político específico pode ser burocrática (como são os partidos
políticos) ou autárquica[3].
Isso gera uma diferenciação entre os movimentos políticos, pois os de
organização autárquica possuem lideranças ou não, mas os de organização
burocrática possuem, necessariamente, os burocratas, ou seja, dirigentes no interior
de uma legitimação interna da direção através dos seus regimentos, documentos,
etc. A organização pode ser um pequeno grupo político, tal como um coletivo
anarquista de seis pessoas, ou um grande partido político que reúne milhões de
filiados. Ela pode agir esporadicamente ou permanentemente. Entre os dois
exemplos, existem inúmeros casos intermediários. A organização interna pode se
pautada pela democracia ou autocracia, entre diversas diferenças que existem
não só entre organizações burocráticas e autárquicas, como também no interior
destas[4].
A organização, deve, necessariamente, ter um programa
político. O programa político pode ser mais ou menos desenvolvido, dependendo
de cada caso concreto. Ele pode ser materializado em manifestos, programas
(nome dado a documentos políticos de determinadas organizações), cartas de
princípios, regimentos, etc. O programa de alguns movimentos políticos é bem
geral, tal como no caso de uma carta de princípios que coloca os preceitos
sobre a organização e seus objetivos, ou podem ser bem amplos e estruturados,
possuindo vários documentos (manifesto, programa, regimento, etc.). As
organizações burocráticas tendem a ter uma grande quantidade de documentos
programáticos e as organizações autárquicas tendem a ter poucos documentos
programáticos. Um programa político pode conter as bases intelectuais do modo de
produção, como, por exemplo, uma teoria, uma ideologia, uma doutrina, etc. Um
partido liberal pode se fundamentar em doutrinas ou ideologias liberais. Um
coletivo anarquista pode se fundamentar em uma das doutrinas anarquistas
(anarcossindicalismo, anarco-coletivismo, anarco-comunismo,
anarco-individualismo, etc.).
Ele também pode conter as estratégias e táticas da
organização, bem como o seu objetivo final. A estratégia remete ao modo de
efetivar a ação visando atingir os seus objetivos, o que inclui a análise dos
meios e dos fins, entre outros elementos (VIANA, 2019). Os movimentos políticos
realizam estratégias de classe, pois são os setores conscientes, organizados e
ativos das classes sociais. A estratégia de classe é “um plano elaborado de
forma reflexiva por representantes intelectuais de uma classe social no sentido
de apontar um objetivo que articula meios e fins de forma indissolúvel e a
partir dos interesses fundamentais da classe social que expressam
intelectualmente (VIANA, 2019, p. 12). O objetivo final é algo presente nas
organizações, mas a estratégia pode não existir em determinados movimentos
políticos, por suas próprias deficiências. O mesmo vale para a tática, que
aparece como importante para algumas organizações e sem importância para outras.
A tática também é compreendida sob formas distintas. Para o leninismo é uma
etapa da estratégia, enquanto que para o marxismo autogestionário é uma “ação
possível”, ou seja, uma parte da estratégia para questões imediatas, mas é
desvalorado em sua importância para as lutas a serem travadas.
Uma concepção é outro elemento necessário. Afinal, é a
partir de uma determinada concepção, mais ou menos desenvolvida (que poder ser
uma doutrina, como a anarquista, ou uma teoria, como a marxista, ou uma ideologia,
como o leninismo) que se produz o programa. Nesse caso, trata-se de concepções
políticas e não qualquer concepção a respeito de qualquer assunto. As
concepções políticas são extremamente variadas e com subdivisões e podemos
citar o liberalismo, republicanismo, fascismo, nazismo, bolchevismo,
social-democracia, trabalhismo, marxismo, anarquismo, entre outras. Também
podemos citar as subdivisões, tais como a do liberalismo, que se divide em
liberalismo democrático, nacional-liberalismo, neoliberalismo, entre diversos
outras, assim como o bolchevismo que se divide em leninismo (ortodoxo),
stalinismo, trotskismo, maoísmo, etc. E ainda podemos ver subdivisões na
subdivisão: o trotskismo tem várias vertentes e o neoliberalismo também.
A concepção é a base do programa e que o direciona seus
demais elementos. Daí sua importância. E, como se trata de uma concepção
política, então, ela, geralmente, apresenta uma determinada concepção do que a
sociedade (atual) é e do que deveria ser. E, para alguns, o que é deve continuar
sendo a mesma coisa ou deve gerar pequenas mudanças pontuais para garantir sua
reprodução. Assim, as organizações políticas dos três blocos sociais se
diferenciam nesse quesito, pois o bloco conservador visa manter a sociedade tal
como está e as mudanças são apenas formais ou pontuais no sentido de garantir a
conservação e estabilidade; o bloco progressista aponta para a necessidade do
progresso e isso significa apontar mudanças pontuais ou mais gerais ou mesmo
grandes reformas, visando aperfeiçoar a sociedade existente ou supostamente
“transformá-la”, com alterações em seus elementos ao invés de substituição por
outros; o bloco revolucionário já visa a transformação radical e total do
conjunto das relações sociais, apesar das ambiguidades de algumas concepções
políticas no seu interior.
Quais são esses movimentos políticos? Aqui já apontamos
vários exemplos. Poderíamos citar o movimento socialista (social-democrata)
como movimento político geral, e a chamada Segunda Internacional[5]
buscou ser uma união dos diversos partidos social-democratas, ou o movimento
anarquista, com milhares de pequenos grupos espalhados pelo mundo sem maior
articulação. Outro exemplo é o movimento liberal, que, por ser composto por
pessoas das classes superiores, pode se organizar via partidos políticos (os
vários partidos liberais existentes), institutos e outras formas
organizacionais.
Os casos acima são movimentos políticos gerais. Como
movimentos políticos específicos podemos citar os diversos partidos políticos e
grupos políticos existentes. A título de exemplo, podemos citar o PSTU –
Partido Socialista dos Trabalhadores – Unificado, e o PSL – Partido Social
Liberal, no Brasil atual. Todos os demais partidos seriam outros exemplos. Mas
além dos partidos, a UNIPA - União Popular Anarquista, pequeno agrupamento
anarquista; o Movaut – Movimento Autogestionário, coletivo marxista
autogestionário; o Quebrando os Muros, coletivo “libertário”[6]
paranaense; o Front 88, gangue neonazista; são bons exemplos de movimentos
políticos específicos.
Movimentos
sociais e movimentos políticos
Após essa breve introdução sobre os movimentos sociais e os
movimentos políticos, devemos dar o último passo que é a relação entre ambos.
Vamos tratar dessa relação no âmbito teórico e no âmbito concreto, político. No
primeiro caso, temos que comparar ambos, mostrando as semelhanças e diferenças.
No segundo caso, temos que ver que tipo de relação se estabelece concretamente
entre estes dois movimentos.
Durante a discussão sobre movimentos sociais e movimentos
políticos já apontamos várias diferenças e seria repetitivo retomar. Vamos
apenas sintetizar e acrescentar alguns aspectos. Os movimentos sociais são
movimentos de grupos sociais e os movimentos políticos são expressões das
classes sociais. O primeiro é emanação direta dos grupos sociais e seus
componentes são quase sempre destes; o segundo é emanação geralmente indireta
das classes sociais. Derivado disso, os movimentos sociais são voltados para
objetivos, mobilizações, etc., que expressam os interesses dos grupos sociais,
a transformação situacional, e os movimentos políticos são voltados para um
posicionamento global diante da sociedade, expressando interesses de classes.
Assim, os movimentos sociais apontam para lutas específicas, causas específicas
e os movimentos políticos apontam a política, para lutas e causas gerais. Um
outro elemento derivado disso é que os movimentos sociais atuam,
prioritariamente (mas não unicamente) na sociedade civil e os movimentos
políticos priorizam (embora não unicamente) as lutas políticas (que para a
maioria se concentra no aparato estatal, tal como os partidos políticos e
outras organizações políticas) ou na organização de classe (especialmente as
organizações políticas do bloco revolucionário).
Assim, o movimento ecológico se preocupa com a questão
ambiental, mas certos anarquistas querem abolir o Estado. O movimento negro
quer combater o racismo, mas os autogestionários querem abolir a sociedade que
gera o racismo e constituir uma nova sociedade como relações raciais
igualitárias e, por conseguinte, sem racismo. Daí é possível perceber essa
diferenciação entre o especifismo dos movimentos sociais e o generalismo dos
movimentos políticos. Porém, existem proximidades, mas vamos tratar disso
quando abordarmos os casos concretos.
Os movimentos sociais são voltados para grupos sociais e
causas específicas. O nome “social” aponta para isso. Os movimentos políticos
já tratam de algo geral, se posicionam diante da sociedade, expressando os
interesses de distintas classes sociais e, por conseguinte, distintos
posicionamentos diante dela. O conceito de política aqui é o amplo, ou seja,
como toda e qualquer manifestação da luta de classes[7].
O conceito de social já aponta para tudo que é integrado na sociedade ou ela em
sua totalidade (VIANA, 2011). O “social” dos movimentos sociais remete a algo
específico, os grupos sociais. Assim, um movimento político surge para
tematizar a sociedade e se posicionar diante dela, gerando um programa
conservador ou transformador. Um movimento social emerge para defender causas
específicos de grupos sociais específicos.
Porém, em alguns casos há uma aproximação entre um e outro.
Isso é melhor compreendido ao tratarmos da relação concreta, real, existente
entre os movimentos sociais e os movimentos políticos. Os movimentos políticos
influenciam os movimentos sociais. Historicamente, o movimento feminino emergiu
a partir do movimento operário e dos movimentos políticos associados a ele. Por
outro lado, uma vez que se consolidam os movimentos sociais, os movimentos
políticos continuam influenciando-os. Isso ocorre sob várias formas. É o caso
dos partidos políticos, que atuam diretamente ou indiretamente sobre os
movimentos sociais (geralmente sob as duas formas simultaneamente). Mas os
demais movimentos políticos também afetam os movimentos sociais através da luta
cultural, concepções políticas específicas (diante da sociedade ou, mais
restritamente, de certos governos).
Os movimentos sociais, por sua vez, também geram impactos
nos movimentos políticos. No caso dos partidos políticos, muitas vezes é um
impacto frágil, que gera reações genéricas e sem maior importância, tal como o
fisiologismo eleitoral. Assim, alguns partidos colocam reivindicações de grupos
sociais nos seus programas e propagandas, outros criam até seções internas
voltadas para eles, como, por exemplo, para mulheres, negros, etc. No caso de
outras organizações políticas, que não são partidos políticos, há variação,
dependendo da formação política (maior ou menor desenvolvimento intelectual),
maior ou menos ligação a uma tradição, etc. Assim, o anarquismo pode criar um
“feminismo classista” devido ao impacto do movimento feminino e sua expansão
contemporânea.
Porém, não existe apenas influência, mas também atritos.
Alguns movimentos políticos são radicalmente contrários aos movimentos sociais
ou a algum deles especificamente. Uma gangue neonazista, por exemplo, nada terá
a ver com movimento feminino ou movimento negro e sua posição é de condenação e
violência em relação a tais movimentos sociais. A recíproca tende a ser
verdadeira, embora ausente por não ser uma preocupação, o que pode mudar se
houver ascensão das organizações políticas neonazistas. Alguns setores dos
movimentos sociais, por sua vez, são totalmente contrários a alguns movimentos
políticos, tal como a resistência que muitos possuem em relação ao marxismo (em
parte explicado pelo conservadorismo de alguns deles, em parte pela crítica
marxista dos limites do especifismo, gerando até mesmo ódio e atitudes
irracionais contra essa concepção política e suas organizações e militantes).
A relação entre movimentos políticos e movimentos sociais
pode ser vista também do ângulo histórico. Os movimentos políticos,
historicamente, sempre tiveram maior impacto sobre os movimentos sociais.
Porém, a partir dos anos 1960, os movimentos sociais ganharam mais força e
presença, sem, no entanto, alterar essa relação. E a partir da última fase do
capitalismo, no regime de acumulação integral (VIANA, 2009; BRAGA, 2018; ORIO, 2014;
ALMEIDA, 2014) que, com a nova política cultural do capitalismo, as políticas
segmentares do neoliberalismo, a hegemonia do paradigma subjetivista e da
ideologia pós-estruturalista, entre outras determinações, os movimentos sociais
ganharam mais força e influência sobre os movimentos políticos e estes perderam
força e influência. No entanto, ainda existe influência recíproca, bem como
atritos e divergências sob diversas formas e por diversos motivos.
Entre os movimentos políticos, é o marxismo que tem maior
capacidade analítica e força crítica diante dos movimentos sociais. E a razão
disso se encontra na sua análise totalizante da sociedade e desenvolvimento
teórico. Por isso não faz apologia dos movimentos sociais e mostra suas
fragilidades e limites. Ao mesmo tempo, não recusa as causas legítimas (pois
existem as ilegítimas) dos movimentos sociais, tal como as reivindicações
contra o sexismo, violência contra as mulheres, racismo, destruição ambiental,
etc. Porém, insere tais reivindicações no âmbito do seu processo de produção e
assim relaciona os grupos sociais e o capitalismo, bem como suas
reivindicações. Assim, a concepção ilusória e apologética dos grupos sociais e
dos seus ativistas, é substituída pela percepção real e verdadeira de que são
seres sociais determinados e perpassados pelos problemas dessa sociedade como
todos os demais indivíduos, inclusive ligados a interesses que os vinculam a
ela. E isso, por sua vez, gera uma reação inamistosa por parte de setores e
ativistas dos movimentos sociais, que querem manter uma percepção ilusória dos
grupos sociais e movimentos sociais, o que é coincide com seus interesses. Não
é difícil perceber que a força dos movimentos sociais ao se tornar proeminente
gera um processo de despolitização ao se fundar no especifismo e isso é
percebido pelo marxismo (TARDIEU, 2014).
Porém, essa relação entre movimentos políticos e movimentos
sociais é complexa e possui outros elementos. Não poderemos abordar todos, mas
resta destacar a proximidade entre determinados setores dos movimentos sociais
e determinados movimentos políticos. As tendências revolucionárias no interior
dos movimentos sociais reformistas, por exemplo, vão além do especifismo e
articulam a luta pela transformação situacional do grupo social com a luta pela
transformação social radical e total do movimento operário. Assim, tais
tendências revolucionárias ficam na fronteira entre ser uma ramificação de um
movimento social e ser um movimento político, mas ficam no primeiro caso por
causa do vínculo e lutas específicas do grupo social de base. Por outro lado,
alguns setores dos movimentos políticos se aproximam dos movimentos sociais,
seja por oportunismo (eleitoral, interesse partidário, etc.), seja por união do
projeto geral de sociedade e questões específicas.
Essa breve síntese da relação entre movimentos políticos e
movimentos sociais precisa ser aprofundada, mas consideramos que o primeiro
passo foi dado e agora é preciso desenvolver e trazer mais elementos para a
reflexão. É preciso desenvolver estudos históricos sobre essas relações, entre
outros aspectos.
Considerações
finais
O nosso objetivo foi apontar para as diferenças e
especificidades de movimentos políticos e movimentos sociais e julgamos que, de
forma breve e introdutória, conseguimos atingi-lo. Os movimentos sociais são
emanações dos grupos sociais e os movimentos políticos das classes sociais. Por
conseguinte, os movimentos sociais tratam de questões específicas e os
movimentos políticos de questões gerais. Os movimentos sociais lutam pelos interesses,
necessidades, reivindicações de grupos sociais. Os movimentos políticos já
expressam interesses das classes sociais. Isso gera relações marcadas por
complementos e conflitos, entre outros aspectos. As posições mais exageradas
dos movimentos sociais caem no especifismo e, por isso promove afastamento,
críticas, etc. Especialmente nas suas expressões dogmáticas e extremistas. Por outro lado, os movimentos políticos reacionários são
não apenas contra os movimentos sociais, mas até mesmo contra os grupos
sociais de base dos mesmos. Nesse contexto, o presente artigo buscou contribuir
para compreender, complementarmente, estas relações.
Referências
ALMEIDA, F. M.
Reestruturação produtiva e trabalho: O Mito da flexibilização. Estácio de Sá
Ciências Humanas, v. 02, n. 2, 2014.
ALONSO,
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BRAGA, Lisandro. A Teoria do Regime de
Acumulação Integral. In: MARQUES, Edmilson e MAIA, Lucas (orgs.). Nildo Viana: Dialética e Contemporaneidade.
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DUVERGER, Maurice. Os
Partidos Políticos. Brasília: Edunb, 1982.
ETZIONI, Amitai. As Organizações Modernas. 5ª edição, São Paulo: Pioneira, 1976.
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos
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GOSS, Karine P. e PRUDÊNCIO, Kelly. O
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* Doutor em
Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB).
[1] Sinteticamente, podemos
dizer que o grupo social é a base de um movimento social, mas este é o “grupo
em fusão”, ou seja, o seu setor ativista. Os indivíduos do grupo que são
indiferentes ao movimento social ou contrário a ele (o que não é incomum), não
são parte dele. As ramificações são, por sua vez, organizações, concepções
(doutrinas, ideologias, etc.) que são partes dos movimentos sociais. Por
exemplo, o movimento ecológico é um movimento social que contém inúmeras
ramificações, desde associações ecologistas de algumas cidades, até amplas
organizações nacionais, bem como possuem diversas concepções, tais como
ecologistas fundamentalistas, ecologistas realistas, ecocapitalistas e
ecossocialistas (VIANA; LELES, 2018). Outro exemplo é o movimento feminino, com
inúmeras organizações, concepções, etc., e não são, cada organização,
tendência, etc., um movimento feminino e sim uma ramificação deste movimento
social.
[2] Isso se assemelha a
algumas definições de movimentos sociais, com exceção da referência às classes
sociais e organizações. A ideia de que os movimentos sociais visam conservar ou
transformar a sociedade (ou, nas concepções mais problemáticas, que afirmam que
querem a mudança social) é ilusória, obviamente. O que eles buscam é a
transformação situacional e não da sociedade (VIANA, 2016c). Mas no caso dos
movimentos políticos é verdadeiro, pois isso está explícito pelas organizações
políticas. Outro adendo importante é a percepção que existem várias formas sob
as quais se pode querer conservar a sociedade, bem como transformá-la. É
possível querer conservar através do “retorno à tradição”, através da
manutenção de tudo exatamente como está, através de reformas ou concessões,
entre outras possibilidades, o que gera as diversas correntes no interior do
conservadorismo. O objetivo da transformação social pode, também, se dividir
entre as falsas concepções a este respeito, e as que realmente almejam uma
revolução e estas últimas podem se diferenciar por questões secundárias, como
estratégia, base teórica ou doutrinal, etc.
[3] Sobre partidos políticos e
burocracia, cf. Michels (1981); Duverger (1982); Weber (1993), Viana (2014). A
distinção entre organização burocrática e organização autárquica pode ser vista
em Viana (2016d).
[4] A este respeito existem
três obras que ajudam a entender melhor as organizações políticas: Viana, 2014a;
Viana, 2016d; Viana, 2014b).
[5] A Primeira Internacional,
AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores) foi constituída no século 19 e
teve como principal articulador Karl Marx e era composta por trabalhadores e
intelectuais que se identificavam com o proletariado. Com o seu fim, os
partidos social-democratas, posteriormente, retomaram a ideia de uma
“associação internacional”, que, no entanto, se tornou “partidária”, ou seja,
aglutina partidos políticos social-democratas (e, depois, surgiu a “Terceira
Internacional”, bolchevista e que aglutinava os partidos comunistas e, ainda,
outras “internacionais”, seguindo a mesma lógica de unir apenas ativistas
políticos de grupos ou partidos).
[6] O termo “libertário” é
ambíguo e às vezes é tido como sinônimo de “anarquismo” e, em outros casos,
como algo positivo e indefinido, bem como é associado ao liberalismo. Isso
serve para perceber, por exemplo, que o uso do termo por um grupo político sem
maior definição e explicitação do seu significado aponta para os limites da
concepção do coletivo.
[7] Tal como se vê em Miliband
(1979) e especialmente em Viana (2015b), no qual faz uma diferenciação entre os
significados do termo.